segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Competição para crianças



“A natureza é uma vadia assassina.”

Certa vez vi essa frase em algum lugar pelas redes sociais. Achei meio cruel chamar a coisa mais importante do universo de “vadia assassina”, mas pensando friamente a gente nota que o autor tinha razão mesmo dentro da falta de sutileza.
Dentro da natureza (pretendo falar sobre o quanto fazemos parte dela em outra oportunidade) a atitude mais simples é sobreviver, seja fugindo ou seja caçando. Cada animal faz tudo dentro do seu alcance para permanecer vivo e proteger sua prole, e seja darwinista ou criacionista, a pessoa que negar a seleção natural não passa de uma tola teimosa (sim, conheço a teoria do design inteligente, chamem como quiserem). Ao fazer o melhor que pode cada indivíduo é testado e julgado apto ou insuficiente para prosseguir com sua prole.
O fato é que segundo algumas religiões mais filosóficas e a própria lógica, o ato de caçar uma presa é um ato de amor, onde o predador mata um ser para se alimentar, e esse será julgado insuficiente, ou seja, não mais procriará dando espaço a outros mais aptos da mesma espécie. Por outro lado, um predador que não alcança sua caça também é insuficiente, e segue-se a mesma lógica...
No reino vegetal acontece o mesmo, em uma velocidade inúmeras vezes menor. Plantas com crescimento mais acelerado se destacam e inibem a passagem de sol que alimentaria as outras menores, por vezes matando-as. Outras crescem depois, e na qualidade de parasitas crescem por anos agarradas às maiores para enfim sufoca-las num abraço de morte.
Porque negar então que nós, seres humanos seguiríamos uma lógica semelhante? No início de nossa existência caçamos, plantamos, guerreamos, matamos e aprendemos a mentir e controlar, tudo com o intuito de obter poder, e por consequência seguirmos vivos. Houveram povos pacíficos na nossa história, e como acabaram? Pois é, acabaram. Não digo que um povo está certo em exterminar seu semelhante, mas sem medo de errar digo que um povo ou pessoa sem defesa está assumindo o risco de se tornar vítima, ou alguém aí vê com frequência policiais ou militares sendo assaltados em serviço? (Fugi do assunto, mas é pertinente)
Da mesma forma, uma pessoa que não trabalha ou não sabe como ganhar a vida em uma sociedade como as atuais tende a falir financeiramente; um atleta que não treina tende a ser derrotado; um estudante ruim fracassa nas notas e assim por diante.
- COMO DIABOS NÃO INCENTIVAR A COMPETIÇÃO?
Quer dizer que vou preparar meus filhos para um mundo de competição ensinando a não competir? A serem aprovados sem julgamento na escola? A dizer que está tudo bem quando perdem uma disputa? Antes que algum sabichão venha dizer que estou sendo implacável, leia com atenção:

1)Tudo bem perder filho, te dou um sorvete pra te animar!

2)Perdeu de novo seu fracassado! És um incompetente mesmo, está de castigo!

3)Valeu pelo esforço, temos que melhorar pra vencer na próxima!

Se não ficou claro, estou sugerindo que a alternativa 3, meio termo entre 1 e 2 seja adotada. As “crias” precisam sim aprender que perder faz parte, mas não podem acostumar a se conformar com isso.  A vitória tem de ser comemorada com respeito ao perdedor, e a derrota aceita como uma lição para buscar melhora e vitória.
Se pouco tempo atrás o julgamento era implacável em muitas partes das vidas da molecada, hoje a galera do “coitadinhas das crianças” está criando todas em bolhas. O resultado é uma das gerações mais emocionalmente instáveis e inseguras de que se tem notícia. A problemática toda é que um dia eles sairão da bolha, e o mundo não muda pra gente. A natureza é uma vadia assassina, lembram? E a vida não aceita desculpas.
Se foi mal na escola tem um motivo, se perdeu a corrida tem um motivo, e qualquer outra coisa na vida terá. O que precisa é encontrar o motivo e lidar com ele, ou contorná-lo dentro do possível, administrar acertos e falhas como faremos durante toda a vida e em todas as áreas.
                Se falo com conhecimento de causa? Meu filho mais velho tem 10 anos, todas notas acima de 9, letra invejável a muitos adultos, desenha muito bem, leu 12 livros nos últimos 10 meses e pratica esportes regularmente. O mais novo tem apenas 1 e meio, sem proezas a declarar, mas também promete e farei tudo ao meu alcance para que seja uma pessoa excelente no geral, afinal de contas eu seria um pai “insuficiente” se não o fizesse. Quem quiser que faça diferente com os seus, mas até agora meu método tem se demonstrado um formador de seres “aptos”.